Oração aos Moços, uma pequena resenha dos conselhos de Rui Barbosa aos que estão começando na árdua, mas não menos gratificante labuta jurídica.

                      Associado à notória sabedoria e capacidade de Rui Barbosa, “Oração aos Moços” traz-nos, no desenvolver de sua história, toda humildade, compreensão e paciência escondidas nas qualidades conhecidas do crítico, censor e intransigente político – jurista em que as trazia como marca incontestável.

                        Alguns arriscam o palpite de que a explicação para tal fenômeno dá-se em virtude das injúrias do tempo que assolam a todos e, que em Rui Barbosa, aquela época, já se traduzia pela sua debilitada saúde; outros vão mais longe e tentam buscar ilações de que os homens, à medida que o tempo passa, vão amolecendo e descobrindo na paciência uma virtude e inseparável parceira.

                        Mais do que isso; vemos um Rui Barbosa como uma figura paterna, que faz de suas palavras conselhos e daqueles formandos da Faculdade de Direito de São Paulo, seus filhos, sem que perdesse, para tanto, sua energia de político e brilhantismo de jurista.

                        Considerando a impossibilidade de estar presente naquela cerimônia, por força da parca saúde, foi cuidadoso em explicar… Não se esforçou na demonstração mais do que plausível de que sua ausência teria como nexo causal o seu estado de saúde, mas, mostrou toda sua força em asseverar que naquela sessão far-se-ia presente em alma e coração, regando sua cátedra de espiritualidade.

                         Mostrou que a distância entre o experiente jurista e a embrionária vida jurídica do formando consiste apenas no conhecimento de mundo que se conquista dia a dia, mas que o sonho de ambos continua o mesmo, e que o elixir da vida é fazer deste sonho o seu cotidiano alimento.

                        Indiretamente interpretou Rudolf Von Ihering quando este afirmou que: “ a luta é o meio necessário para se buscar a finalidade do direito, que consiste a paz” , eis que para lutar destemido é necessário estar embriagado de ira, cólera e, que estas, neste diapasão, não traduzem pecado, mas sim o mal justo e necessário que justifica a conduta. Naquele momento, mais do que o esperado mestre realizando seu ensinamento, era o confesso Rui Barbosa abrindo uma página, do livro que interpreta sua vida.

                        Sempre cuidadoso e repetitivo na importância do conhecimento de mundo, para entender o Direito como um sistema, deu a seus afilhados a mais digna lição de humildade, quando os ensinava o grande paradoxo que se revelava: a necessidade da existência dos adversários.

                        Alertou que o tempo corre em desfavor de todos, notadamente para os mais jovens, pois não acreditam que a vida é curta, ao passo que os mais experientes possuem a certeza de tal assertiva.

                        Verberou a igualdade material, narrando que “a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais….”, enfatizou que cada homem possui a capacidade, dentro de cada limite, da criação moral, cujos recursos mais poderosos são trabalho e oração.

                        Pugna veementemente o repetidor de idéias e enfatiza, como conseqüência, que o operador do direito é pago para pensar e não para fazer; incorpora César Bonesanda, Marquês de Beccaria ao atentar para o cuidado que se deve tomar, acerca da interpretação hermenêutica das leis – pois diferentemente do que apresentado por algumas normas, cujos critérios elitistas são enraizados, trazendo uma concepção desviada – a vontade que deverá sempre prevalecer não é do legislador, mas sim da lei.

                        “Oração aos Moços” leva-nos à reflexão que, talvez, Rui Barbosa continuou sempre um inquebrantável defensor de suas idéias, que suas qualidades sempre foram as mesmas, que fomos nós, as pessoas que demoraram a enxergar essa realidade, pois aquele que postulava que o resultado de uma codificação normativa jamais poderia ser o produto de apenas uma Escola, não poderia nunca ser qualificado como intransigente; sim…somos nós quem deveria perquirir; talvez…

3 pensamentos sobre “Oração aos Moços, uma pequena resenha dos conselhos de Rui Barbosa aos que estão começando na árdua, mas não menos gratificante labuta jurídica.

  1. Marco Passos disse:

    Gostaria de ler um resumo desta Oração ao Moços

  2. sidineis modesto de araujo disse:

    emocionante e tão atualizado.muito bom

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